No dia Mundial da Água (22), a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) lança o relatório temático “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil”. O documento, de um pouco mais de 100 páginas e rico em mapas e diagramas, traz a síntese do conhecimento sobre águas continentais considerando as ameaças aos recursos hídricos e aos ambientes aquáticos, o diferencial competitivo que o seu uso eficiente possibilitam ao desenvolvimento e à economia do país e propõe práticas e instrumentos para um melhor uso e manejo das águas brasileiras. O relatório foi preparado por 17 especialistas vinculados a instituições públicas e privadas de diversos setores relacionados à temática, e que vem trabalhando regularmente na redação do documento desde novembro de 2018. O lançamento deste relatório complementa a produção da abordagem sobre água, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano da BPBES. O sumário para tomadores de decisão deste tema foi lançado em agosto de 2019.
O Brasil é o país com a maior reserva mundial de água – concentrando 12% da disponibilidade hídrica superficial do planeta –, vastos reservatórios de água subterrânea e uma circulação atmosférica que distribui umidade entre diversas regiões, sendo capaz de regular o clima de todo o continente sul-americano. Nossa economia é extremamente dependente de seus recursos hídricos e da biota aquática. Cerca de 65% da energia no país é gerada por meio de usinas hidrelétricas e a agricultura, que contribui com 25% do PIB nacional, consome aproximadamente 750 mil litros de água por segundo, sem considerar o abastecimento humano e o uso da água pela indústria.
Embora a pujança neste recurso, a distribuição e a demanda são muito desiguais no país nos mais diferentes aspectos, tais como ocorrência de secas, inundações, ameaças a biodiversidade, aplicação de instrumentos políticos, monitoramento e dados sobre qualidade e quantidade das águas superficiais e subterrâneas . Estima-se que cerca de 40% do território nacional possua níveis de moderado a elevado para a biodiversidade aquática. Cerca de 10% das espécies de peixes continentais está sob risco de extinção e mais de 50% das espécies identificadas como ameaçadas no país são de peixes e invertebrados aquáticos.

De acordo com o documento, em 2030, a demanda de água no país terá aumentado 2000% em relação aos últimos 100 anos, o que conduziria milhões de brasileiros a uma crise hídrica, caso nenhuma ação seja tomada.
O diferencial desse trabalho está na abordagem da questão da água não apenas sob a dimensão de sua importância como recurso hídrico, mas também como é um componente-chave da biodiversidade, é patrimônio cultural e está atrelada ao bem-estar da população brasileira de inúmeras maneiras. Além de representar uma grande oportunidade para garantir ao país um desenvolvimento econômico e social bastante competitivo. O relatório aponta as principais ameaças e indica direções para um melhor manejo e conservação dos recursos hídricos por meio de mudanças na gestão, integração entre agências e setores envolvidos e desenvolvimento de estratégias de conservação focadas nos múltiplos usos da água.
Assim, como todos os relatórios da BPBES, o diagnóstico sobre água também é acompanhado pelo seu respectivo Sumário para Tomadores de Decisão, documento que traz as principais informações-chave para gestores públicos e privados. O Sumário para Tomadores de Decisão foi lançado em agosto de 2019, durante o Congresso Nacional de Limnologia, em Florianópolis (SC).
A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) – Iniciativa criada em 2015 que congrega um grupo independente formado por cerca de 120 autores, dentre professores universitários, pesquisadores, gestores ambientais e/ou tomadores de decisão. Seu objetivo é produzir sínteses do melhor conhecimento disponível pela ciência acadêmica e pelos saberes tradicionais sobre as temáticas da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos e suas relações com o bem-estar humano, com foco nos biomas continentais do Brasil (Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Campos Sulinos) e no costeiro-marinho. Para tanto, promove reuniões setoriais de trabalho com grupos de interesses variados – como representantes do governo federal, organizações não governamentais, empresas, etnias indígenas e jornalistas – com o intuito de compartilhar os principais resultados, debater e ouvir críticas e sugestões. A iniciativa é inspirada na Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) da ONU, criada em 2012 e que funciona como o “IPCC da Biodiversidade”. A BPBES conta com o apoio financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, via CNPq, e do Programa Biota/Fapesp e tem o apoio institucional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Conheça mais sobre a Plataforma em www.bpbes.net.br